FREUD - ALÉM DA ALMA
Freud explica: "A ciência não é uma
ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro
lugar o que ela não nos pode dar". Esta pequena citação freudiana é o
ponto de partida do roteiro de Freud - Além da Alma, escrito
pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre e dirigido pelo lendário John
Huston. Infelizmente, no entanto, o diretor exagera no clima
hollywoodiano (o que, inclusive, desagradou o filósofo e roteirista
Jean-Paul Sartre) e apega-se demasiadamente a artificialismos,
neutralizando tudo. A luz da lógica, o fio condutor da história é o
próprio Freud - aqui interpretado elegantemente por Montgomery Clift -,
que com persistência e brilhantismo conquista o espectador.
Huston
realiza uma pseudo-biografia do psicanalista vienense, mas descrevendo
apenas um período de cinco anos (a partir de 1885) da vida do médico e
pai da Psicanálise. Nessa época, a maioria dos colegas de Freud se
recusavam a tratar dos casos de histeria por acreditar que tudo não
passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção. Mas Freud, não
satisfeito, passou a aplicar a técnica da hipnose, que viria a se tornar
uma prática no tratamento psiquiátrico. Ao longo destes anos, John
Huston nos mostra como Freud iniciou seus estudos e desenvolveu a teoria
da psicanálise.
Sem rodeios, o diretor
nos mostra já na primeira cena que Freud não aceitaria o tratamento
para pacientes com histeria de forma fácil. Na verdade, o médico prova
para o professor e todos os outros presentes (que fingem não reconhecer)
que não há uma solução tão simples para a histeria. A partir daqui, o
que veremos na tela é uma construção de personagem melancólica e
filosófica, tendendo muitas vezes para o antagonismo da arte, onde o
autor expressa sua visão por meio de argumentos interessantes, mas que
perdem autoridade pela opção narrativa demasiadamente controversa. Há um
exagero, por exemplo, no uso do flashback. E logo este recurso
que pode acrescentar tanto charme viu-se perdido pelo falta de
criatividade do roteiro de Sartre, que não sustenta-se na estrutura
cinematográfica.
É
uma pena também que o filme aborde de maneira tão superficial o tema da
sexualidade, já que esta temática foi bastante recorrente na vida de
Freud - e não vale dizer que foi por causa da época em que foi filmado,
pois muitos outros diretores tratavam do tema com grande elegância na
mesma época, como Billy Wilder, Frank Capra e Ingmar Bergman, por
exemplo. Claro que há a descoberta e a angústia, que fazem do filme um
exercício interessante - e cena onde Freud fala do Complexo de Édipo
numa palestra ilustra isso muito bem -, mas faltou alma e propriedade ao
personagem principal, que certas vezes parece um homem sem sentimentos,
apenas atento ao trabalho. Mas nada disso acontece por incompetência de
Montgomery, pois o ator se entrega completamente ao personagem, o
problema estava mesmo no desenvolvimento dos laços deste.
Com
altos e baixos, é assim que Huston carrega seu filme, com refinamento
técnico e boa plasticidade visual (auxiliada pela fotografia em P&B,
que valoriza o lado dark da história e explora muito bem o uso
das sombras, algo pelo qual o diretor sempre prezou), mas também carece
na construção da ação dramática, que nunca envolve o espectador por
completo.
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