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Tigran Petrosian - Um jogador posicional espetacular e ganhar dele era muito difícil para qualquer adversário |
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O Maior Estrategista no Sacrifício Posicional de Qualidade |
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O Campeão do Mundo Petrosian com Fidel Castro na Olimpíada Mundial de Xadrez em Havana em 1966. |
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Retrato pintado do "Tigre de Ferro" |
Reshevsky - Petrosian [E58]
Zurich izt, 1953
[Petrosian, Tigran]
1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 Ab4 4.e3 0-0 5.Ad3 d5 6.Cf3 c5 7.0-0 Cc6 8.a3 Axc3 9.bxc3 b6 10.cxd5 exd5 11.Ab2 c4 12.Ac2 Ag4 13.De1 Ce4 14.Cd2 Cxd2 15.Dxd2 Ah5 16.f3 Ag6 17.e4 Dd7 18.Tae1 dxe4 19.fxe4 Tfe8 20.Df4 b5 21.Ad1 Te7 22.Ag4 De8 23.e5 a5 24.Te3 Td8
Quero dar algumas idéias sobre o laboratório do enxadrista, ensinar como nascem as vitórias e as derrotas. O tema "sacrifício posicional de qualidade" é tão interessante como difícil. O sacrifício de qualidade (se é um sacrifício real) é um método de luta bastante complicado. Se pode encontrar em partidas tanto de jogadores com categoria como de grandes mestres. Pouco a pouco cheguei a conclusão de que a maior dificuldade quando um enxadrista deve tomar semelhante decisão, tem um caráter meramente psicológico. Desde que entramos em contato com o ABC do jogo de xadrez, antes de nada aprendemos a valorização de cada peça. Ao novato nas primeiras lições lhes explicam que a única medida das peças de xadrez é o peão. Uma peça ligeira vale três peões, por exemplo: se tem pelo cavalo e pelo bispo a medida de três peões, então sobre o tabuleiro há uma igualdade total de material; a torre vale quatro peões ou uma peça ligeira mais um peão, e se fosse dois peões a mais, então regra melhor. E quando um enxadrista escolhe uma jogada, o conhecimento de semelhante correlação de material corta instintivamente em sua consciência essa jogada que coloca sob ataque a peça mais forte Precisamente por isso, o enxadrista nunca pensa em que pode colocar a dama sob ataque de um peão, a torre sob alcance de um bispo, já que pode capturar-se sem dificuldade. Esta mesma grande dificuldade psicológica, é a que persegue ao enxadrista no processo da luta.
25.Tfe1
Esta posição é, provavelmente, de uma de minhas partidas mais conhecidas, e é um exemplo simples de estudo, em que o tema é o sacrifício posicional de qualidade. Na partida com Samuel Reshevsky (torneio de candidatos, 1953), eu jogava com as pretas.No tabuleiro há uma situação muito complicada, de tensão estratégica, com igualdade de material. Ao mesmo tempo parece que há surgido o assim chamado equilíbrio dinâmico: as possibilidades de um bando no ataque e do outro na defesa estão igualadas. As brancas têm um forte centro de peões que, com seu avanço, desde logo repercute na posição das pretas. Por outro lado, não se vê como pode por as brancas em movimento os peões; sem avançar o peão de "e", não se vê como vão tirar proveito disto; o peão de "d" não pode avançar porque a casa d5 esta sob controle ou ataque das brancas. Pelo que foi visto nesta posição estava contente. Pois quando analisei mais profundamente, estava evidente que a posição das pretas era muito difícil. Por que? porque suas peças se defendem passivamente, em ordem a uma posição defensiva. As brancas podem preparar o avanço do peão "d" a casa "d6", rechaçando as peças pretas e obter uma posição ganhadora. Por outro lado têm a possibilidade de ameaçar o avanço do peão "h" até a casa h6. Se leva o peão "h" até a casa h6 ou h5, isto conduz a um debilitamento do flanco rei e as brancas, apoiando-se no bispo de casas brancas, a torre na casa e3, a dama e o bispo na casa c1, obtendo um fortíssimo ataque. Compreendi que colocando o cavalo preto em d5, ao momento das trocas a valorização da posição: de uma difícil se passava a uma muito boa. Neste caso o avanço dos peões brancos está detido, o bispo branco em b2 tem todos os motivos para considerar-se uma peça muito mau, o preto pode jogar depois b5-b4 e obter um peão passado, que com o apoio do cavalo em d5 e do bispo em g6 vai desenvolver uma enorme força. Pois é evidente que não é fácil levar o cavalo a d5. Desde de logo, pode chegar ali somente via b6, c7 ou e7. Para translocar o cavalo a b6 ou c7 é necessário muito tempo, e as brancas jogando Ag4-f3 e d4-d5 obtém uma posição ganhadora. O ideal seria levar o cavalo a e7, mas como fazê-lo? Oferecemos essa variante 25....Tb7; 26.Af3(com ameaça de d4-d5) ou (em vez de 26.Af3) 26.e6 Ce7, e se apresenta muito forte 27.Af3. Depois 27....Cd5; 28.Axd5 Txd5; 29.Df3. Está atacada a torre que não pode sair porque defende b7. Se 29....fxe6, então a simples continuação 30.Dxd5 leva a vitória. Durante bastante tempo pensei nesta posição, e quando cheguei a jogada correta, então me senti mais animado. Até certo ponto é simples, que não cheguei a por em dúvida. Quando cheguei a superar esta barreira psicológica, que já falei antes, coloquei a torre sob o ataque do bispo.
25...Te6
"O fino jogo de Reshevsky e a férrea lógica de Petrosian, fazem da partida uma das jóias do torneio"(D. Bronstein
26.a4 Ce7 [As pretas não caem na armadilha do adversário, que oferecia jogar 26...b4? então podia seguir 27.d5 Txd5 28.Axe6 fxe6 29.Dxc4 , as pretas caíram na própria armadilha: depois da abertura da posição começará a jogar todas as peças brancas.]
27.Axe6 fxe6 28.Df1 Cd5 29.Tf3 Ad3 se o branco não devolve a qualidade em d3, digamos jogando 30.Df2, então depois de b5-b4 as pretas têm um jogo rico. O mais característico é que aqui não se sente em absoluto a vantagem material das brancas, ou que tenha torre por peça menor. Reshevsky tomou em d3.
30.Txd3 cxd3 31.Dxd3 b4 32.cxb4 as brancas podiam mover aqui [32.c4 , obtendo o avanço da falange no centro, pois Reshevsky jogou com prudência, já que a 32.c4 poderia seguir 32...Cb6 . As pretas tomam o peão a4, obtendo dois peões ligados e passados. Surgiria uma luta muito aguda, que Reshevsky rechaçou. A partida terminou em empate. ]
32...axb4 33.a5 Ta8 34.Ta1 Dc6 35.Ac1 Dc7 36.a6 Db6 37.Ad2 b3 38.Dc4 h6 39.h3 b2 40.Tb1 Rh8 41.Ae1 1/2-1/2
Petrosian - Gligoric [E94]
Olimpíada, 1962
[Petrosian, Tigran]
Antes de mostrar a segunda posição quero repetir outra vez, como na primeira, que a dificuldade mais importante nas posições de sacrifício de qualidade e a predisposição psicológica para chegar a entregar uma torre por uma peça ligeira. A segunda dificuldade reside em entregar a qualidade quando não estamos obrigados a esta circunstância. O que me obrigou na partida contra Reshevsky a mover 25. ... Te6? Podia construir a "fortaleza" (h6), fazer algumas jogadas mais, pois depois de dois ou três lances resultava em uma posição completamente desesperada. Por isso é necessário ter tempo, adivinhar de antemão como se desenvolverá os acontecimentos, e tomar as medidas necessárias.
1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Ag7 4.e4 d6 5.Ae2 0-0 6.Cf3 e5 7.d5 Cbd7 8.0-0 Cc5 9.Dc2 a5 10.Ag5 h6 11.Ae3 Cfd7 12.Cd2 f5 13.exf5 gxf5 14.f4 exf4 15.Axf4 Ce5 16.Cf3 Cg6 17.Ae3 De7 18.Dd2 f4 19.Af2 Ce5 20.Cxe5 Axe5 21.Ad4 Af5 22.Tf2 Ag6 23.Taf1 Dg5 24.Axe5 dxe5 25.Rh1
Esta posição é de minha partida contra Gligoric na olimpíada de 1962. Eu jogava com as brancas. As pretas têm várias peças muito ativas, o avanço dos peões "e" e "f" no centro, e conseguem levar a cabo e5-e4, dispondo previamente as torres em f6 e f8, então a situação das brancas não são viáveis. Geralmente, quando o adversário tem no tabuleiro peões colgantes, trata-se de obrigar o avanço de um deles(o peão f5 avançou a f4), para bloquear-los coloca-se uma peça ligeira entre eles. Quando o peão preto avançou a f4, parecia que as brancas só faltava bloquear a casa e4; pois isto não é assim. As pretas têm uma combinação de peças muito boa. O cavalo em c5 e o bispo de casas brancas fazem este objetivo inalcançável para as brancas.
25...Ta6 a jogada da partida tem uma maior projeção. Gligoric translada a torre a f6 pela sexta horizontal e se livra da obrigação de considerar a jogada d5-d6. [tem também o mesmo valor 25...Tf6 e depois 26. ... Taf8.]
26.Af3 parece que as brancas cometeram um erro, já que agora se pode jogar com ganho de tempo 26. ... e4. Pois resulta que na resposta seguiria 27. Dd4. A 27. ... Cd3 as brancas sacrificam a qualidade, pois em compensação as brancas tomam o peão de e4. Se 27. ...De7, então 28. Te2, e a luta adquire caráter muito agudo, um caráter tenso. Gligoric não se apressa.
26...Taf6 parece que a posição branca não tem esperança. As pretas se dispõem a jogar e5-e4 ou antes b7-b6, e não se vê como tomar o controle da casa e4, porque as torres estão dispostas desarmonicamente a tal ponto que não se pode ir a coluna "e". Apesar de tudo joguei.
27.Te1! um límpido sacrifício posicional de qualidade. Novamente as brancas não esperam que o adversário as obriguem a tomar decisões responsáveis, elas mesmo tentam adivinhar o que passará depois de algumas jogadas, e tomam medidas de prevenção. [se 27.Te2 , então 27...Ad3 , e se 27. ...Cd3. Em um e outro caso a primeira vista as brancas têm grandes problemas. 28.Tfe1]
27...Cd3 28.Tfe2 Cxe1 29.Dxe1 pendente do peão e5. Se as pretas o cedem, então as brancas já têm peão pela qualidade.
29...Te8 30.c5 as pretas têm a qualidade puríssima. Pois se pararmos para pensar, a jogar este tipo de posições, então sentirá que a qualidade a mais não se nota em absoluto. Em todo caso, Gligoric não fez o melhor.
30...Tff8 31.Ce4 neste momento Gligoric me ofereceu empate. As brancas não têm nenhuma razão para jogar para ganhar, de modo que o empate é bom.
1/2-1/2
Portisch - Petrosian [A35]
San Antonio, 1972
[Petrosian, Tigran]
1.c4 c5 2.Cf3 Cc6 3.Cc3 g6 4.e3 Ag7 5.d4 d6 6.Ae2 cxd4 7.exd4 Cf6 8.d5 Cb8 9.0-0 0-0 10.Ae3 Ca6 11.Cb5 b6 12.Cfd4 Ab7 13.Af3 Cd7 14.Dd2 Ce5 15.Ae2 Dc8 16.Tac1 Cc5 17.b4 Ce4 18.Dd1 a6 19.Ca3 a5 20.b5 Dc7 21.Cc6 Tae8 22.Cb1 Cd7 23.Af3 Cec5
Esta posição é interessante como mero plano psicológico. Portisch tem uma clara vantagem posicional. Fez sua jogada, e depois de minha resposta meditei aproximadamente dez minutos, e todo este tempo me mirava. Não podia entender se eu sacrificava a qualidade ou não. Finalmente, como disse depois da partida, disse que eu tinha me descuidado, tomou e caiu em uma situação difícil. Em uma mera relação enxadrística a posição tem um caráter próprio. As pretas tem retrasado um peão na coluna "e", as brancas um forte cavalo em c6. geralmente nestes casos se ataca o peão e7 pela coluna "e", obrigando o avanço deste peão, ao que se trocará em e6, passando de uma posição a outra em que as brancas aumentam gradualmente sua vantagem posicional. Nestas posições as brancas devem jogar Tf1-e1, depois Ae3-g5, dependendo do que realizem as pretas, pouco a pouco, sem precipitar-se, vão aumentando a pressão. Em vez disto Portisch jogou:
24.Ag5 caindo sobre o peão de e7. Aqui as pretas podem jogar 24....Af6 ou 24....Cf6, inclusive 24....Cb8, defendendo o peão. Pois, desde logo, em todos os casos não é possível pensar na jogada f6-f7. Parece que a situação aqui não obriga ao preto a tomar tal medida cardinal. Pois, quando Portisch permitiu a imprecisão de jogar 24.Ag5, veio-me a idéia de levar a cabo a jogada 24....e5. A idéia é simples. Se agora as brancas tomam "en passant", então depois de 25....Txe6 as pretas podem manter esta posição: têm um forte bispo em g7, a segunda torre pode ir a e8, o cavalo joga muito bem. Em uma palavra, esta posição é defensável. Depois de:
24...e5 Portisch finalmente decidiu-se que havia passado a jogada.
25.Ae7 depois seguiu:
25...f5 26.Axf8 Cxf8 em duas jogadas a posição modificou-se bruscamente. As brancas têm torre por peça menor, pois não têm nenhuma atividade no jogo, porque todas as colunas estão cerradas, e as torres têm que estar aonde existe colunas abertas. Ainda mais quando o peão tem passado a e5, o cavalo branco em c6 é muito bonito, pois nada mais. Praticamente há surgido uma posição em que as pretas têm em luta uma peça a mais. Por desgraça, não pode levar esta partida a vitória, ao que aqui a vantagem das pretas é inquestionável.
27.Ae2 Ah6 [não é a melhor jogada, era necessário jogar primeiro >=27...h5 ]
28.Tc2 Ac8 o bispo se dirige a uma diagonal aonde pode trabalhar.
29.Cc3 Cfd7 30.Te1 Cf6 31.Af1
Aqui apressei-me um tanto. Sem dúvida, era necessário fazer alguma jogada profilática do tipo de Rg8-h8. joguei:
31...f4 esta jogada é necessária fazê-la com muita prudência, já que a mobilidade do par e5, f5 surge uma estrutura pouco móvel , e o peão preto "e" pode ser bloqueado. É certo que aqui tem que ter em conta que as pretas têm uma considerável maioria de peças para lutar pela casa e4. Os cavalos c5 e f6 e também o bispo, que se precipita a f5, fazem o avanço e5-e4 possível.
32.Tce2 Tf8 33.Ca4 as brancas se esforçam nas trocas para debilitar a pressão inimiga.
33...Cxa4 34.Dxa4 Cd7 35.Ce7+ não observei esta simples jogada.
35...Rh8 36.Cxc8 Dxc8 37.Da3 Cc5 38.Df3 Df5 39.h3 empate.
1/2-1/2
Tal - Petrosian [C97]
XXV Campeonato da URSS, 1958
[Petrosian, Tigran]
Todo enxadrista tem partidas que lhe gostam especificamente. Aqui está meu encontro com Tal em 1958 no XXV Campeonato da URSS, que me recordo sobretudo, não o resultado desportivo, e sim o logro artístico. Há enxadristas que estão contentes com quase todas as suas partidas e há enxadristas bastantes autocríticos. Devo dizer, como regra, que raramente estou contente com as minhas. Minha partida com Tal é uma que me causou uma idéia prazerosa e trouxe-me felicidade.
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Ab5 a6 4.Aa4 Cf6 5.0-0 Ae7 6.Te1 b5 7.Ab3 0-0 8.c3 d6 9.h3 Ca5 10.Ac2 c5 11.d4 Dc7 12.Cbd2 Ad7 13.Cf1 Cc4 14.Ce3 Cxe3 15.Axe3 Ae6 16.Cd2 Tfe8 17.f4 Tad8 18.fxe5 dxe5 19.d5 Ad7 20.c4 Tb8 21.a4 b4 22.a5 Tf8 23.Aa4 Axa4 24.Txa4 Tbd8
As brancas têm uma grande vantagem posicional. Têm realmente demais um peão passado em d5. É certo, porém que não joga um papel essencial, já que se bloqueia facilmente em d6, em d7 e inclusive em d8, pelo que não representa um perigo direto. Pois no processo da luta enxadrística tem lugar o passo ao final, então a defesa do peão passado pode jogar um papel decisivo. Como se defende as pretas? Ao que não se ameaça nada, podem jogar Ae7-d6, depois Cf6-d7, f7-f6, Tf8-f7, levar a outra torre a f8; em suma se contentar com uma posição passiva e esperar o que fará as brancas, cedo ou tarde as pretas caem em uma posição difícil. Os enxadristas experimentados sabem que em uma situação restringida muitas de suas desgraças vêm porque suas torres estão em uma situação menos vantajosa que as torres de seu adversário. Por exemplo, as brancas avançando os seus peões do flanco rei, vão operar com ajuda das peças de longo alcance, colocando as torres em f1 e g2 e as torres pretas estão obrigadas a transladar-se só pela 7a e 8a filas, esperando a que se abra o jogo. Aqui consegui pensar em um plano de defesa muito interessante que agradou-me então, gosta-me agora e penso que será instrutivo para qualquer enxadrista. Tal jogou:
25.Df3 ao que respondi com a jogada
25...Td6 a jogada a primeira vista parece estranha. Desde logo sobre a lei da estrategia enxadristrica, quanto mais forte é a peça que bloqueia menos serve para esse papel. Se digamos, a dama passa a este posto, então sob ataque de qualquer peça se vê obrigada a retirar-se e para a torre é desagradável o ataque das peças menores. Pois eu tinha completamente outra idéia.
26.Cb3 Cd7 27.Taa1 Tg6 esta é a idéia que pensei e me encantou. Previ que se as torres permaneciam em sua casa seriam demasiados lentas, assim saquei uma delas a casa g6 para que desde ali desempenhe um papel ativo na luta iminente. Desde logo, Tal poderia eleger outro plano, não jogando ao ataque, transladando, por exemplo, o cavalo a f5, pois esta seria outra partida. A torre em g6 penso que está bem. Pois o que nos sucedeu na partida foi de grande interesse.
28.Tf1 Ad6 29.h4 aqui, desde logo, se podia jogar 20....Tf6 e trocar as torres, pois repito que minha idéia era outra.
29...Dd8 30.h5 Tf6 31.Dg4 Que se faz aqui? Em 1958 fiz uma jogada, que agora pode ser que não se passará pela cabeça. Agora tomaria em f1 e pode ser que chegaria ao empate ou perderia. Então provavelmente, tinha outras idéias e joguei:
31...Tf4 Este é o método, a torre sem estar coagida a isto se coloca sob o ataque de uma peça menor.
Desde logo, se Tal tivesse entendido finalmente ao que chegava a captura da qualidade, teria se contentado com a captura do peão
32.Axf4 [32.Txf4 exf4 33.Axf4 Axf4 34.Dxf4 De7 as pretas não têm o peão, mas a posição que resulta é muito complicada. O cavalo pode ir a e5 e o peão d5 não pode avançar. Considerei que esta situação era melhor que o jogo com material igualado, pois em uma posição muito restringida.]
32...exf4 33.Cd2 para as brancas somente pode tomar parte na luta pelo ponto e5 o cavalo e Tal se esforça em transladá-lo a f3(seguramente para este objetivo era mais forte Cc1-d3).
33...Ce5 34.Dxf4 parece que as brancas não estavam obrigadas a fazerem esta jogada. Digamos que é possível 34.De2. Então as pretas têm toda uma série de continuações: podem jogar 34....g5 ou 34....Dh4. Em ambos os casos, é difícil que nas posições surgidas as brancas notam a qualidade a mais. Tal compreendeu que não tinha dado um giro muito bom e se lançou nas complicações.
34...Cxc4 35.e5 Cxe5 36.Ce4 com a ajuda de um contra-sacrifício as brancas têm aberto colunas para as suas peças mais combativas, as torres. Pois agora as pretas têm chances suficientemente sérias.
36...h6 37.Tae1 Ab8 38.Td1 c4 as brancas já têm grandes dificuldades; se ameaça Aa7+ e depois Ce5-d3 com ameaças de mate. Fora isto, trás a aparição do cavalo em d3 obstruindo a torre deixando sob o ataque o peão d5. Tal encontra um recurso suplementar para salvar-se.
39.d6 Cd3 40.Dg4 Aa7+ 41.Rh1 f5 42.Cf6+ não se pode tomar o cavalo, porque há o xeque em c4. Começa toda uma série de golpes táticos. [42.Txf5 Txf5 43.Dxf5 Dh4+ 44.Dh3 Dxe4-+]
42...Rh8 43.Dxc4 Cxb2 44.Dxa6 Cxd1 45.Dxa7 Dxd6 46.Dd7 Dxf6 47.Dxd1 Tb8 as pretas têm maiores possibilidades de vitória, mas não podem realizar a vantagem e a partida terminou em empate:
48.Tf3 Ta8 49.De1 Txa5 50.Dxb4 Te5 51.Df4 Rh7 52.Rh2 Td5 53.Tf1 Dg5 54.Df3 Te5 55.Rg1 Tc5 56.Df2 Te5 57.Df3 Ta5 58.Rh2 Rh8 59.Rg1 Ta2 60.Dd5 Tc2 61.Da8+ Rh7 62.Df3 Tc1 63.Txc1 Dxc1+ 64.Rh2 Dc7+ 65.Rh3 De5 66.g4 fxg4+ 67.Rxg4 Dg5+ 68.Rh3 Df6 69.De4+ Rg8 70.De8+ Df8 71.Dxf8+ Rxf8 72.Rg4 Rf7 73.Rf5 1/2-1/2
Dunaiev - Petrosian [B84]
Campeonato da URSS de Escolares, 1946
[Petrosian, Tigran]
As posições de sacrifício de qualidade que temos visto até agora estavam dirigidas a defesa. Pois este procedimento técnico se encontra com mais freqüência como objetivo agressivo. Os três sacrifícios seguintes se deram em partidas nas que escolhi com a Defesa Siciliana. Nelas realizou-se um procedimento mais conhecido: o típico ataque ao ponto e4.
1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 e6 6.Ae2 a6 7.a4 Ae7 8.Ae3 Dc7 9.Cb3 b6 10.f4 Ab7 11.Af3 Cbd7 12.0-0 Tc8 13.g4 Cc5 14.Cxc5 bxc5 15.g5 Cd7 16.a5 Tb8 17.Dd2 Ac6 18.Ca4 Tb4 19.b3
Esta posição é de minha partida com o jogador de primeira Vladimir Dunaiev, do campeonato da URSS de escolares de 1946. Muitos de vocês conhece-o perfeitamente, porque agora é comentarista político na televisão central.
19...Txe4! se agora captura a torre com o bispo, então a simples 20....Axe4. É evidente que aqui as brancas estão mal e que para as pretas é suficiente deixar o bispo pela grande diagonal e situar a dama em c6. Se deve advertir também que as pretas não rocaram ainda e podem abrir a coluna "h"(h7-h6). Por isto as brancas não tomam a qualidade e jogaram.
20.c4 se propõe a tomar a torre com o cavalo(Ca4-c3xe4).
20...h6! 21.g6? [>=21.Cc3 Txe3 22.Dxe3 hxg5 23.fxg5 Ce5 24.Axc6+ Dxc6 aqui as pretas tinham compensação mais do que suficiente.]
21...f5 22.Cc3 Cf6 23.Axe4 fxe4 24.Tad1 [>=24.f5 para lutar pela casa d5.]
24...d5 25.cxd5 exd5 26.f5 d4 27.Af4 Dc8 28.Ce2 Dxf5 29.Ag3 Dxg6 30.Cf4 Df7 31.Dc2 g5 32.Ce2 d3 e as brancas abandonam.
0-1
Troianescu - Petrosian [A04]
Bucarest, 1953
[Petrosian, Tigran]
1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d3 Cc6 4.Cbd2 g6 5.g3 Ag7 6.Ag2 e6 7.0-0 Cge7 8.Te1 0-0 9.c3 b6 as brancas escolheram uma estrutura que lembra a Defesa Índia do Rei de cores opostas, conhecida como Ataque Ïndio do Rei.
10.Cf1 Aa6 11.d4 cxd4 12.Cxd4 [12.cxd4 e5~~]
12...Ce5 [>=12...Cxd4 13.cxd4 Dd7]
13.Ag5 h6 14.Da4 Ab7 15.Axe7 Dxe7 16.Tad1 Tfc8 17.Ce3 Tc5 18.f4 Cc6?
As pretas deveriam ter complicado o jogo depois de [18...b5 eu rejeitei isto por causa da seguinte variante: 19.Cxb5 Ac6 20.fxe5 Axb5
a) 20...Axe5? 21.c4 a6 22.b4 axb5 23.Dc2;
b) mas 20...Txe5 as pretas escapariam de todo o perigo. 21.Da3
(21.c4 a6 22.Db3+/- era muito forte
) 21...Txb5 22.Dxd6 Db7; 21.exd6 Axa4 22.dxe7 Axd1 23.Txd1 esta posição favorece as brancas.]
19.Cxc6? Agora as pretas se sentem aliviadas. A posição poderia se tornar muito difícil após: [>=19.Cb3 b5 20.Da3 b4 21.Da4!
(21.cxb4? Tb5 22.Cc2) 21...bxc3 22.Cxc5 dxc5 23.e5!+/-]
19...Axc6 20.Dc2 Td8 21.De2 Db7 22.Cc2 b5 23.Td2 Tc4 24.a3 a5 25.Ce3
25...Txe4 26.Axe4 Axe4 Por que nos dois últimos casos se sacrificava a qualidade rapidamente? Porque com a peça menor as pretas obtém um peão a mais e em qualquer outro exemplo a peça menor e o peão a mais serão sempre suficiente compensação pela torre. Aqui as pretas têm o par de bispos. Deles é especialmente forte o de casas brancas; já que as torres inimigas não têm um campo de operações. Está totalmente claro que as pretas tem reforçado sua posição e intensificado a pressão. A continuação da partida foi muito interessante.
27.Cc2 d5 28.Cd4 b4 29.cxb4 axb4 30.a4
Avaliando esta posição superficialmente, o enxadrista pode assustar-se de sacrificar a qualidade. As brancas têm obtido um peão passado; o cavalo está forte em d4, se tem aberto a coluna "c", a torre irá apoiar o peão. Pois resulta que as brancas têm um rei inseguro. As pretas prever o translado do bispo de casas pretas a casa c5, após o que imediatamente se faz evidente que toda vantagem das brancas não joga um papel especial e ao redor do rei se concentra nuvens obscuras. Desde logo, aquí o melhor era jogar 30.h4 e depois levar o rei a h2, desta maneira permanecer na espera. É certo que as pretas, tem vantagem posicional e suficiente compensação pelo material de menos, podem tentar outras possibilidades, por exemplo, e6-e5 e incorporando o bispo na casa e5 para inquietar o rei inimigo.
30...Da7 31.Df2 uma pequena armadilha se ameaça 32.Cxe6.
31...Tc8 32.b3 Af8! o bispo vai a c5 e as brancas terão grandes dificuldades.
33.Cb5 Da6 34.De2 Db6+ 35.Rf1 a posição das pretas é muito bonita, pois, como ganhar? Se podia penetrar pela coluna "c", pois todas as casas estão sob fogo cerrado. Jogar para o mate? Pois para isso seria necessário recolocar as peças. O cavalo em b5 ocupa uma posição defensiva segura. Por sorte, dirigo-me a um segundo sacrifício de qualidade, que assegura a vantagem.
35...Tc3! se ameaça xeque em f3 e o peão em b3. [se 35...Ac5 , então 36.Tc1 , apesar de tudo as brancas têm a qualidade a mais.]
36.Cxc3 bxc3 37.Tc2 [37.Td3 as pretas jogariam 37...Af5 38.g4 Axd3 39.Dxd3 Dxb3 com posição ganhadora.]
37...Dxb3 38.Tec1 Ab4 recomendo ao leitor dirigir uma especial atenção ao que sucede no tabuleiro. Desde logo, que sentido tem não ater-se a entregar a qualidade com estas torres brancas, que não podem fazer nenhuma jogada? Devem permanecer e esperar, uma vez que as pretas têm muitos meios de reforçar sua pressão.
39.g4 Axc2 40.Txc2 Dxa4 aqui já é evidente que só é necessária uma elementar precisão.
41.f5 exf5 42.gxf5 g5 43.h4 Ac5 44.hxg5 Df4+ 45.Re1 Dg3+ 46.Rd1 Dg1+ 47.De1 Dxe1+ 48.Rxe1 hxg5 49.Re2 Ad4 50.Ta2 Rg7 51.Rd3 Ae5 52.Ta5 Rf6 53.Txd5 Rxf5 54.Re3 f6 55.Tc5 Rg4 56.Tc4+ Rg3 57.Re4 g4 e as brancas se rendem.
0-1
Parma - Petrosian [B82]
Torneio Internacional de Moscou, 1971
[Petrosian, Tigran]
1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Dc7 5.Cc3 e6 6.Ae3 a6 7.f4 b5 8.Cb3 d6 9.Ad3 Cf6 10.0-0 Ae7 11.Df3 Ab7 12.a4 b4 13.Cb1 a5 14.C1d2 0-0 15.Rh1 Cb8 16.Cd4 Cbd7 17.Cb5 Db8 18.Tae1 Tc8 19.Dh3 Cc5 20.Axc5 Txc5 21.Cb3
Na Defesa Siciliana o ataque ao peão e4 pela 4a fila desde a casa b4, c4 e inclusive d4 está muito divulgado. Pois aqui a idéia que consegui levar a cabo é interessante, antes de tudo por ser pouco usual.
21...Th5 parece uma jogada absurda. A torre cai no cerco das peças inimigas e quando a dama sair de h3, ameaçará g2-g4, então, o que fazer com a torre?
22.Df3 e5! esta é a jogada imprescindível. No plano das pretas tomar parte o ataque(de uma ou outra forma) ao peão e4 e em qualquer empresa no xadrez é necessário ao princípio tê-lo em conta, para igualar sua mobilidade e depois atacar.
23.f5 a colocação da torre preta é ridícula.
23...d5 o ataque ao ponto e4. Não é possível tomar em d5 porque tem 24...e4.
24.Cd2 Th4! [se trocar-se todas as peças em e4, 24...dxe4 25.Cxe4 Cxe4 26.Axe4 Axe4 27.Dxe4 , então é evidente que as pretas não pensaram em algo. As brancas têm magnificamente colocado seu cavalo em b5, caem sobre o peão e5 e a torre em h5 não está em jogo. Entretanto, quando eu transladei a torre ao flanco do rei, minha idéia era totalmente outra. ]
25.g3 dxe4 26.Cxe4 e agora:
26...Txe4 27.Txe4 [aqui depois de 27.Axe4 Cxe4 ,igualmente como na partida contra Troianescu, a grande diagonal está debilitada, o segundo bispo vai a c5, as pretas têm uma forte pressão, ante o qual a qualidade a mais das brancas não se nota.]
27...Dd8 28.Tfe1 Tc8 as pretas não se precipitam.
29.T1e2 Dd5 caímos no apuro de tempo. Quando se mostra a partida tudo parece fácil, simples, compreensível. Pois a luta de torneio cada jogada exige uma enorme tensão, um maior gasto de força e tempo. Porque praticamente em todas as partidas que mostrei estava em apuro de tempo.
30.b3 h6 31.Rg2 Dd7 32.h3 Ac5 33.h4 h5 34.Rh3 Ab6 na partida contra Portisch o cavalo em c6 não estava em jogo, aqui o cavalo em b5, também está fora do campo de batalha. No terreno decisivo da luta as pretas têm uma avassaladora vantagem de força.
35.Rh2 g6 36.fxg6 Cg4+ 37.Rg2 f5 e as brancas abandonam. Resumindo, quero dizer mais uma vez que o sacrifício posicional de qualidade é um recurso forte e eficaz. Entretanto, é necessário ter uma grande experiência. No processo da luta não há que sucumbir ao forte hipnotismo da torre contra a peça menor. Porque tudo o que decide a real correlação das forças no tabuleiro, a valorização real da posição.
0-1
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