domingo, 8 de dezembro de 2013

CRUZADA

 Cruzada narra a história de uma das muitas investidas da cristandade medieval pelo domínio de Jerusalém.  Paralelamente ao confronto armado e ideológico entre mulçumanos e cristãos encontra-se um jovem ferreiro que acaba por assumir o papel de protetor e líder dos exércitos da cidade santa.  Como era de se esperar, as intrigas e alianças de natureza duvidosa são adotadas como estratégicas quase rotineiras na luta irrefreável pelo poder.  Personagem com uma postura ética inabalável, o herói-ferreiro Balian (Orlando Bloom) representa um contraponto necessário diante das constantes demonstrações de imoralidade. Assim, acaba recaindo sobre ele a difícil decisão: matar um homem para salvar toda uma cidade ou manter-se fiel aos princípios de sua moralidade "quase" kantiana?  Alguns personagens mostram-se francamente maquiavélicos quando defendem a primeira opção, uma vez que, "os fins justificam os meios", ou em outras palavras, matar uma pessoa representaria uma ação moralmente justificável tendo-se em vista um fim tão nobre.  Por outro lado, se olharmos a decisão como uma decisão puramente aritmética: um é um número infinitamente menor que a população de uma cidade, teremos uma postura tipicamente anglo-saxônica, o utilitarismo.
Apesar dessas discussões éticas serem um ponto alto no filme, há ainda a questão da religião, ou melhor, das religiões.  Fica outra pergunta: não seriam a tolerância e o respeito à crença alheia atitudes verdadeiramente religiosas?  Mesmo que você, como eu, defenda essa idéia, parece-me que a prórpia história da Humanidade só foi capaz, até o presente momento, de mostrar que, ao lado da crença fanática, sempre encontramos as atitudes mais reprováveis, do ponto de vista moral, de que temos conhecimento.  O período das Cruzadas não foi diferente.  O papa e o alto clero querendo mais poder, os militares querendo mais poder, os ricos querendo mais poder.
 Cruzada, além de ser uma aula de história pode perfeitamente servir-nos de espelho de nossa própria desumanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário