O VALOR ABSOLUTO E RELATIVO DAS PEÇAS
Todo iniciante no jogo do xadrez, sabe de uma referência ao valor absoluto e relativo dos elementos operativos, peças e peões, ou seja da força que exerce cada peça ou peão. O peão é a referência absoluta unitária, depois o cavalo que vale três peões, o bispo que vale três peões e meio, a torre que vale cinco peões e finalmente a dama que vale nove peões. Para melhor visualizar esta relação absoluta veja o quadro abaixo.
QUADRO I
VALOR ABSOLUTO DAS PEÇAS
PEÇAS | NÚMERO DE CASAS QUE DOMINA NA POSIÇÃO CENTRAL d4 | VALOR |
PEÃO | 02 | 01 |
CAVALO | 08 | 03 |
BISPO | 13 | 03 |
TORRE | 14 | 05 |
DAMA | 27 | 09 |
Daí é importante saber que o valor de cada peça ou peão depende do elemento primordial do jogo do xadrez que é a posição. Os componentes integrantes da posição são três a saber: a força, espaço e tempo. A força corresponde ao material ou elementos operativos(peças e peões), sem o espaço(tabuleiro) e sem o tempo(a oportunidade de jogar), a posição não existe. Pois por outro lado a posição em seu conjunto, é dizer, como tal, determina a importância e o valor de peças e peões(força), dos diferentes quadros ou pontos do tabuleiro(espaço) e da oportunidade de jogar(tempo). Pois esta tabela de valores não devemos concebê-la como uma forma fixa. Somente pode proporcionar-nos uma referencia aproximada das trocas. As peças se encontram sempre em movimento, atuam aqui fortemente, debilmente ali, por isso oscila o valor relativo das peças.
Uma peça menor e dois peões, valem, na prática uma torre e aqui temos a soma ( 3 + 2 = 5), absolutamente correta; porém dois bispos (2 x 3 = 6) são, quase sempre, mais eficientes que uma torre e um peão ( 5 + 1 = 6), enquanto que três peças menores (3 x 3 = 9) são na maioria das vezes, muito mais fortes do que duas torres ( 2 x 5 = 10).
Esta avaliação, naturalmente, é abstrata e não pode ser aplicada a qualquer posição particular; representa o valor prático das peças individualmente, ou seja, a relação mútua que se verifica na maioria das posições. Não deve, entretanto, ser tomada como válida para todas as posições concretas, pois o valor das peças é relativo: depende do carácter da posição quanto do material existente no tabuleiro a um dado momento.
Vejamos agora vários exemplos para ilustrar o que falamos.
(1) Hellers,F - Eingorn,V
1.Bxe5 Txc4+ 2.Rd5 Txc5+ [2...Txa4! com idéia de Ra2-g2-g8 3.c6? fxe5 4.c7 Td4+] 3.Rxc5 fxe5 4.Rd5 Rg6 5.Rxe5 Rg5 6.Re4 h5 7.Re5 Rh4 8.Rxf4 As pretas perderam a oportunidade de ganhar em seu movimento ...Rxc5 ao não saber valer a sua vantagem material (força), pois conseguiram empatar com um recurso de afogamento; não tem para onde mover(espaço), correspondendo a jogar(tempo). 1/2-1/2
As brancas têm uma excelente posição com domínio central do tabuleiro, pois tem seu rei exposto na coluna h e as pretas aproveitaram esta dificuldade em base a importância desta área do tabuleiro neste momento: 1...Bb4! (para coordenar as torres) 2.Cxb4 Txh2+ 3.Rxh2 Dh4+ 4.Rg1 Th8 parece inevitável a vitória das brancas ante a ameaça 5....Qh1++ 5.Ah6! [se 5.f3 segue 5...g3 bloqueando a saída do rei, porém existiu algum recurso...] 5...Txh6 6.Dxh6 Dxh6 todavia as pretas não ganharam, mas melhoraram em muito a sua posição em relação a inicial. *
(3) Kasparov,G - Salov,V
A FORÇA
(1) Hellers,F - Eingorn,V
Campeonato dos EUA, 1992
1.Bxe5 Txc4+ 2.Rd5 Txc5+ [2...Txa4! com idéia de Ra2-g2-g8 3.c6? fxe5 4.c7 Td4+] 3.Rxc5 fxe5 4.Rd5 Rg6 5.Rxe5 Rg5 6.Re4 h5 7.Re5 Rh4 8.Rxf4 As pretas perderam a oportunidade de ganhar em seu movimento ...Rxc5 ao não saber valer a sua vantagem material (força), pois conseguiram empatar com um recurso de afogamento; não tem para onde mover(espaço), correspondendo a jogar(tempo). 1/2-1/2
(2) Exemplo 02
O ESPAÇO(3) Kasparov,G - Salov,V
World Cup Barcelona, 1989
A FORÇA É aqui o momento onde se altera a proporção material deste jogo e os valores absolutos e relativos que se pesam como pratos de uma balança. 1.Cxe6! [1.Rxg2? Dxb6 2.Cxe6 fxe6 3.Dxe6+ Be7 4.Te1 Db7+] 1...fxe6 [1...Bxa1 2.Cxd8+ Rxd8 (2...Be5 3.c5 Bh3 4.Txd6+-) ] 2.Dxe6+ Be7 3.c5!! [3.Te1 Db7] 3...Bb7 [3...Bc6 4.Tac1 Dc7 5.cxd6 Txd6 6.Txd6 Dxd6 7.Dxd6 Bxd6 8.Txc6+-] 4.Te1 Dc7 5.c6!! Bxc6 [5...Bc8 6.Cd5 Bxe6 7.Cxc7++-] 6.Tac1 Td7 7.Cxd7 Dxd7 8.Dc4! [8.Txc6 Dxe6 9.Txe6 Rd7 10.Txe7+ Rxc6+/-] 8...Bb7 [8...Bb5 9.Dc8+ Dd8 10.De6 Bd7 11.Dxd6 Rf7 12.Dd5+ Rg7 13.Tc7!+-] 9.Dc7 Tf8 10.Db8+ Rf7 11.Tc7! 1-0
(6) Najdorf - Ragosin
(4) Exemplo 04
O TEMPO
Quanto ao tempo, por suposto se faz bem importante jogar a cada lance, nada aceitaria que o adversário jogasse duas vezes seguidas, este é seu valor absoluto, pois entretanto há posições aonde o efeito de ter que jogar faz perder e outras nelas que tem de manobrar de maneira que se cede a vez ao adversário desfavoravelmente. Este é o valor relativo do tempo, por demais de que cada uma das jogadas não tem a mesma importância, se trata de considerações relacionadas com a posição. Há aqui uma amostra do acontecimento 1.Dd4 Rb1 2.Dd3+ Ra1 3.Dc3 Se repete a posição pois agora as pretas são obrigadas a jogarem como única jogada 3....Rb1 o que permite as brancas ganhar com Qc1++ Mate. O valor absoluto e relativo da Força, do Espaço e do Tempo, esta presente em toda partida de xadrez e é portanto uma regularidade dentro do processo. A correta valorização a cerca da efetividade que tenha uma peça ou peão, o importante de um quadro ou área do tabuleiro e o proveitoso ou não de ter a oportunidade de jogar em uma posição determinada, comforme uma boa medida da maestria enxadrística. 1-0
(5) Exemplo 05
As peças menores frequentemente variam de valor em relação umas às outras, e isto será motivo de por menorizada atenção posteriormente. Algumas vezes, porém, flutuações ainda maiores se produzem com outras peças. Por exemplo: uma torre é, geralmente, muito mais poderosa do que uma peça menor, mas um cavalo centralizado pode, por vezes, igualá-la. # Aqui, as brancas estariam em vantagem se pudessem colocar sua torre em ação contra o rei preto; mas não podem fazê-lo, nem por via a3, nem via f1. 1.Ta3 [1.Td1 Cf3 2.Tf1 e4 3.Td1 e3-+] 1...e4! 2.Txa6 Cf3 3.Ta3 e3! 4.Tb3 [4.Txe3?? Db1+-+] 4...e2 Por estas razões, o cavalo preto pode ser considerado tão forte quanto a torre branca, e como as pretas possuem um peão a mais como compensação adicional pela qualidade a menos, podemos afirmar estarem em posição superior. 0-1
(6) Najdorf - Ragosin
Interzonal, 1948
Muito variável, também, é o valor da dama. Normalmente, uma dama equivale a uma torre, mais uma peça menor e dois peões; ocasiões há, porém, porém em que pode ser inferior a uma torre, mais uma peça menor e um peão. Daremos um exemplo para demonstrá-lo. 1...Cxe4! 2.Cf6+ Cxf6 3.Txd8 Tfxd8 As pretas sacrificaram sua dama por uma torre, um cavalo e um peão, conseguindo uma posição que a maioria dos competidores ao torneio, consideram boa para seu oponente. As brancas têm vantagem material e sua posição parece ser bastante sólida, apenas a casa b2 apresenta uma debilidade aparentemente provisória. No entanto, posterior da partida prova que Ragosin havia calculado corretamente ao entregar sua própria dama, pois que a de seu opositor permanece, por mais de vinte lances, presa a um ponto Podemos é claro, perguntar-nos porque uma dama deve ser superior a uma torre mais uma peça menor. # Afinal de contas, seus movimentos são meramente a conjugação duas de uma torre e um bispo. Isto é verdade, porém a dama coordena estes diferentes movimentos muito melhor do que as peças podem fazê-lo; sua grande mobilidade torna-a um excelente instrumento de ataque. Nisso se resume a sua superioridade. Sua vantagem, entretanto, é diminuída quando as peças do adversário cooperam bem entre si, cobrindo todos os pontos fracos. A teoria dos finais de partida aponta posições em que uma dama algumas vezes não pode ganhar de uma torre e um peão, por causa da excelente coordenação das forças defensoras; um exemplo similar de cooperação, ainda que algo mais complicado, é o da partida presente, na qual as peças pretas tornam impossível à dama branca encontrar um alvo favorável para ataque. 4.Bd2 [melhor seria 4.Be3] 4...Ce4 sobre esta posição escreveu Ragosin: " Mirando as coisas a fundo, as pretas não têm sacrificado nada, sim que há trocado a dama pela torre, cavalo e peão. As pretas conseguem vantagem de espaço e por isso ficam melhores. Deve notar-se que no transcurso das 25 jogadas seguintes a dama branca não se move". 5.Be3 Cd6! os cavalos devem ocupar posições cobertas; por isso será transladado a f5. Na luta contra a dama é importante evitar a formação de fraquezas táticas que possam ser exploradas pelo oponente. A posição dos cavalos é importante nesta partida, por possuírem excelentes bases de operações; o cavalo em d6, enquanto mira para f5, ameaça assegurar o par de bispos às pretas, mediante c4. 6.Tc1 Cf5 7.Bf4 o ir daqui e ali demonstra que as brancas estão sem nenhum plano. 7...Bd5 8.Bc4 Bxc4 9.Txc4 e5! 10.Bg5? O desejo das brancas em manter a superioridade material, mecanicamente executado, é compreensível, mas conduz a uma rápida catástrofe. [era melhor ter sacrificado a qualidade com 10.Txc6 bxc6 11.Bxe5] 10...Td1+ 11.Rh2 h6 12.Tc1 Td7 13.Be3 e4! 14.Ce1 Tad8 15.Bc5 Be5+ 16.g3 Td2 17.Tc2 Bxg3+ 18.Rg2 Be5 [18...Bxf2? 19.Bxf2 e3 20.Dc3 exf2 21.Txd2 fxe1D 22.Txd8+ ganhando] 19.Rf1 Txc2 20.Cxc2 Td1+ 21.Re2 Tb1 22.b4 Tb2 23.Rd1 Tb1+ 24.Rd2 Bf6! 25.Bxa7 Ce5 26.Da4 Cf3+ 27.Re2 Cg1+ as brancas abandonaram. Nada há para fazer após: 28.Rd2 Nf3+ 29.Re2 Nd6 30.Qd7 Ng1 31.Re3 Rd1. 28.Rd2 Cf3+ 29.Re2 Cd6 30.Dd7 Cg1+ 31.Re3 Td1 0-1
(7) Alekhine - Liliental
1.Dxd8+! Dxd8 2.Bxh4 Dh8 3.Bxf6 Dxf6 4.0-0-0 as brancas estão certas em ceder alguns peões, só para poder fazer avançar o longe possível seus peões livres. 4...fxe4 5.dxe4 Df4+ 6.Td2 Dxe4 7.h4! Dxc4+ 8.Rb1 Df4 9.Tdd1 Dh6 a primeira parte do plano se há completado, a dama se ver obrigada a comportar-se passivamente. Isto permite intervir de modo ativo a segunda torre. Pois as brancas devem contar sempre com que a dama possa passar rapidamente ao contra-jogo e ameaçar com xeque perpétuo. 10.g4 Rd8 como pode se ver posteriormente melhor seria: [melhor seria 10...Rd7] 11.Tde1 a5 12.h5 a4 13.a3 f6 impede um forte movimento. 14.Te6 Rd7 15.g5! Dxg5 16.h6! Dg2 17.Tee1 Dg6+ 18.Ra1 Dh7 agora a dama é desalojada de seu esconderijo com ajuda da torre. 19.Teg1 Re6 20.Tg7 De4 21.Thg1 Dh4 22.h7 b5 23.Txc7 Dh5 24.Te1+ Rd5 25.Ra2! uma valiosa precaução. As brancas se esforçam em abandonar a primeira fila. Para isto movem o rei, com objetivo de que não fique exposto imediatamente ao xeque nesta fila. 25...Rd4 26.Td1+! Re4 teria sido fatal: [26...Re5 27.Te7+ Rf4 28.Tf1+ Rg3 29.Tg7+ Rh2 30.Tfg1] 27.Txd6 De8 28.Txf6 Dh8 29.Th6 a torre assume de novo a posição mais forte. A tarefa da outra torre consiste em expulsar a dama da posição de bloqueio. 29...Rf4 30.Tc8 Dxc8 31.Th4+ Rg5 32.h8D De6+ 33.Rb1 De1+ 34.Rc2 De2+ 35.Rc3 e as pretas abandonaram. 1-0
(8) Panov - Bontsch,Osmolovsky
Duas tores são mais fortes que a dama nos seguintes casos: 1-No caso de que se há trocado a maioria das peças e seja possível iniciar um ataque contra o rei. 2- Quando estão acompanhadas por um peão livre muito avançado. Há aqui dois exemplos. As brancas jogaram 1.axb6 e as pretas contestaram. 1...Bxb6 [melhor seria 1...axb6] 2.Bxb6 depois de 2...Txb6 3.Dxb6! axb6 4.Txa8+ Rh7 a posição das pretas é desesperadora porque as torres conquistaram a sétima fila e não querem ser surpreendidas pela solitária dama num contra jogo. 5.Tdd8 g5 6.Td3 Dc5 7.Ta7 Dc4 8.Tdd7 Dxe4 com o último movimento as pretas aumentam a esperança de um xeque perpétuo. [deve-se ter em conta que depois de 8...Rg6 9.Txf7 Dxf7 10.Txf7 Rxf7 o passo ao final é perdedor para as pretas] 9.Txf7 Rh6 10.Txg7 Db1+ [10...De1+ 11.Rg2 De4+ 12.Rh2 Df4+ 13.Rg1! Dc1+ 14.Rg2!] 11.Rg2 De4+ 12.Rh2 De2 13.Tgf7 Rg6 14.Tf5! as brancas asseguram a posição de seu rei e criam ao mesmo tempo uma rede de mate. 14...e4 15.Taf7 as pretas abandonaram. 1-0
Nenhum comentário:
Postar um comentário