O QUE É UMA COMBINAÇÃO ?
A maioria dos trabalhos que se ocupam com o aspecto tático do xadrez, são consagrados a combinação, que, sem dúvida, constitui o elemento mais importante da tática e ao mesmo tempo o mais interessante. Somente nos últimos tempos foram abordados outros aspectos da tática fazendo-se uma diferença sobre a combinação propriamente dita e a manobra tática.
Que é a combinação no xadrez?
A resposta a essa pergunta não é muito simples de ser dada, pois vários grandes jogadores e analistas do xadrez estudando esse problema chegaram a conclusões parecidas, porém não idênticas, sobre o tema. resumiremos algumas delas.
Em seu trabalho “Manual de Xadrez”, Manuel Lasker, campeão mundial , entre 1894 e 1921, aborda este tema explicando que “em certas posições existam certos lances, chamados forçantes, que criam ameaças inesperadas e fortes, por exemplo: ameaças de mate, de tomada de peça ou coroação de um peão. O objetivo desses lances é trocar todos os valores naturais. Para contra-atacar esses lances forçantes o adversário tem à disposição lances de defesa igualmente forçantes. Deste jeito o ataque, o contra-ataque, a defesa formam uma seqüência, as vezes simples, as vezes mais complexas, chamada variante. Quando essas seqüências se ramificam, por exemplo quando existem dois ou mais meios de defesa se pode falar em cadeias de variantes”. Depois dessa definição de variante Lasker passa a definir combinação da seguinte maneira: “se um grupo de variantes contém em si o resultado concreto que merece atenção então a totalidade dessas variantes se chama combinação”.
Como podemos perceber, Lasker trata a combinação exclusivamente do ponto de vista de um jogador prático. Não o preocupa o fato de existir ou não na combinação o sacrifício como elemento constitutivo. Uma outra explicação sobre combinação foi dada por outro ex campeão mundial, Dr. Max Euwe entre 1935 e 1937, que em seu artigo “Estratégia e Tática” publicado em Amsterdã em 1935 dizia que “se partimos do ponto de vista que por estratégia se entende estabelecer um plano e por tática realizá-lo, então a combinação deve ser considera como a mais alta manifestação de tática. Por combinação se cria uma etapa especial e curta da partida onde se atinge forçado um objetivo precioso. Nesta etapa da partida os lances formam uma seqüência lógica e se encontram numa ligação indissolúvel um após o outro”. Euwe trata também da característica estética da combinação: “combinações provocam sempre uma expressão estética. O modo em que as coisas incríveis se tornam inesperadamente evidentes e o fantástico se torna realidade, exerce sobre os enxadristas um incrível fascínio...”
Uma opinião não tão “catedrática” mas eloqüente citou o conhecido grande mestre Tartakower que com seu habitual humor definiu a combinação como “uma faísca divina que encontra-se fora do jogo de xadrez e que de fato, despreza aqueles princípios sobre tempo, espaço, material e lógica que gostariam de conduzir o jogo exclusivamente...” ( publicado em Berlim, 1928, no livro “Schachmethodik”).
Podemos perceber que o elemento estético é também um fator importante nas combinações. A maioria das combinações, se caracterizam por um elemento que lhes é comum, isto é, o sacrifício. Sacrifício representa o rompimento temporário do equilíbrio quantitativo com o objetivo de obter vantagem material e posicional ou uma definição imediata da partida (mate, xeque perpétuo, afogado, etc).
Aceitando a tese de que o elemento estético é indissoluvelmente ligado a uma combinação é fácil entender porque a maioria dos analistas considera o sacrifício como parte obrigatória da combinação. A combinação é, então, considerada o cume da habilidade tática, representando de fato, uma resolução rápida, precisa e definitiva do problema estratégico contido na posição. Em geral, as mais bonitas combinações contêm normalmente sacrifícios diversos. Existem, entretanto, combinações sem sacrifícios, mas, neste caso, o complexo de lances deve ser forçado e deve produzir uma impressão estética.
A manobra tática significa exatamente este caso onde temos um objetivo claro realizado através de lances forçados, mas onde não se produz o sacrifício. Essa manobre tática se encontra freqüentemente na terminologia enxadrística sobre o nome de seqüência forçada.
Resumindo podemos dizer que combinação é um elemento principal da tática na qual a parte ativa obtém uma vantagem objetiva, com a ajuda de uma série de lances forçados (com ou sem sacrifícios) que na totalidade possui uma impressão estética.
Análise das fases de uma combinação
Fazendo uma análise de qualquer combinação conhecida, podemos constatar que a realização desta tem que passar, do ponto de vista analítico, pelas seguintes fases:
1. Estabelecer a existência de premissas favoráveis que torna provável a existência de uma combinação numa certa posição. 2. Estabelecer a idéia (tema) principal da combinação. 3. Calcular concretamente a série de lances (variantes e sub-variantes) que forma a combinação. 4. Apreciar as conseqüências reais da combinação. |
Estas etapas resumem o processo de pensamento efetuado por um jogador que faz uma combinação. Durante uma partida é claro que estas etapas se sobrepõem, e o esforço recai especialmente sobre os dois últimos tópicos (cálculo e apreciação). Os bons jogadores táticos conseguem, devido ao talento e experiência, perceber quase instintivamente, a presença das combinações em diversas posições, especialmente se elas decorrem logicamente do desenvolvimento normal do plano estratégico.
Podemos dividir as combinações em duas grandes categorias em função de como aparecem na partida de xadrez:
1. Combinações que surgem como conseqüência lógica de um plano estratégico bem elaborado. 2. Combinações que aparecem “ao acaso”. |
As combinações do primeiro grupo são conseqüência de um plano estratégico complexo bem elaborado e a sua realização é apenas o desfecho natural desse plano.
Já no segundo grupo temos combinações muito mais difusas. O nome “ao acaso” não tem nem de longe a intenção de diminuí-las, pois estas combinações podem aparecer em qualquer momento devido às infinitas opções táticas que contém o xadrez. Na base de uma partida qualquer descuido, qualquer erro, qualquer cálculo descuidado ou superficial das variantes podem dar chance ao adversário de realizar um golpe tático inesperado.
Então resumindo o conceito de combinação diríamos que : “ A Combinação é uma variante Forçada, com Sacrifício de Material, conduzindo a um Resultado Positivo”.
Classificação das combinações
Classificação por códigos, muitas vezes são usadas na revista Iugoslávia
“ Sahovski Informator “ e tal combinação não se relaciona com as características da posição.
A classificação temática, acho mais pedagógica e compreensível, destacarei duas que vê o caráter analítico da posição:
1- I - Combinações com ataque de mate.
II - Combinações para conseguir empate.
III - Combinações que conduzem a vantagem material.
IV - Todas as demais combinações.
2- a - Destruição da defesa
b - Bloqueio
c - Liberação de espaço
d - Desvio
e - Ataque descoberto
f - Cravada
g - Demolição da estrutura de peões
h - Atração
i - Intercepção
j - Ataque duplo
k - Abertura de linhas (coluna ou diagonal)
l - Movimento intermediário
m - Promoção de peão
n - Conjunto de métodos táticos.
o - Xeque – perpétuo
p - Afogamento do rei
q - Ataque de raio - X
QUADRO II
MOTIVOS TÁTICOS
ATAQUE DE MATE | GANHO DE MATERIAL | POSICIONAL | EMPATE |
Tipos de Mate | Ganho de Uma Peça Sem Defesa | Criação de Um Peão Passado | Empate Por Afogamento |
Mate Afogado | Ameaça inadvertida | Posto Avançado do Cavalo | Xeque Perpétuo |
Mate do Passeio | Duplo de Cavalo | Torre na Sétima | Redução a Finais Teóricos de Empate Dois Cavalos e Rei Contra Rei Bispo Mal e Peão de Torre |
Perseguição do Rei | Garfos e Outras Forquilhas | Simplificação ou Liquidação com Vista a um Final Ganho | |
Xeque Duplo e Descoberto | Cravadas | Destruição da Estrutura de Peões | |
Duplo Sacrifício De Torre | Peça Sobrecarregada | Controle do Centro | |
Duplo Sacrifício de Bispo | Peça Desesperada | Obtenção do Par de Bispo | |
Ataque a Um Ponto Fraco (Qualquer Casa Só Protegida Pelo Rei) | Coroação ou Promoção Do Peão | Troca Oportuna de Damas | |
Sacrifício Clássico de Bispo | Ataque Descoberto | |
O primeiro exemplo apresenta a clássica combinação efetuada por Botvinnik em sua partida contra Capablanca no torneio internacional de Amsterdã em 1938.
Botvinnik - Capablanca |
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A prática há demonstrado que as mais bonitas e elegantes combinações são conseqüência da realização de um plano estratégico profundo. Apresentamos a seguir um exemplo clássico de combinação brilhante derivada de um plano estratégico bem elaborado. 1.d4 Cf6 2.c4 d6 3.Cc3 e5 4.Cf3 Cbd7 5.g3 g6 6.Bg2 Bg7 7.0-0 0-0 8.b3 Te8 9.e4 exd4 10.Cxd4 Cc5 11.Te1 a5 12.Bb2 a4 13.Tc1 c6 14.Ba1 axb3 15.axb3 Db6 a fase de abertura terminou já com algum sucesso para as pretas na realização do seu plano. Ao preço de uma só fraqueza(d6) suas peças ocupam posições favoráveis exercendo pressão sobre as casas pretas, especialmente d4. A coluna a estar em seu poder e o peão de b3 das brancas é fraco. Para obter contrajogo as brancas teriam que conseguir o avanço f4, porém isso é irrealizável. Na continuação as pretas aumentarão a pressão pelo bispo de g7. 16.h3 Cfd7 17.Tb1 Cf8 18.Rh2 h5! o começo de um plano de ataque muito original. As pretas obtiveram uma melhor posição de peças do ponto de vista de seu plano estratégico. O objetivo deste corajoso avanço é criar uma nova fraqueza na ala do rei branca, obtendo desta maneira, eventuais possibilidades de concretizar sua vantagem posicional através do caminho tático 19.Te2 h4 20.Td2
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Mostraremos a seguir, um exemplo de combinação "por acaso".
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